Rainer Maria Rilke sobre August Rodin


"...agora se lhe revelava todos os dramas da vida: as profundezas das noites de amor, a escura amplidão carregada de prazer e mágoa...como alguém que procura a vida, ele ingressou com os sentidos encandecentes no turbilhão desta luta, e o que viu foi: vida. Aqui pulsava vida, existia mil vezes a cada minuto, existia na saudade, na dor, na loucura e no medo, na perda e no ganho. Aqui havia um anseio incomensurável, um sede tão grande que todas as águas do mundo nela secavam como uma gota, aqui não havia mentira nem renegação, e os gestos do dar e do receber eram autênticos e grandes. Aqui estavam os vícios e as difamações, as condenações eternas e bem-aventuranças, e de súbito percebeu-se que tinha que ser pobre o mundo que escondia e enterrava tudo isso, e fazia de conta que nada disso existia. Mas existia. Ao lado de toda história da humanidade caminhou esta outra historia, que desconhece disfarces, convenções, diferenças e posições sociais – conhece apenas a luta. Também ela se desenvolveu, e a partir de um instinto se tornou um anseio.. em todos os vícios, em todos os prazeres que contrariam a natureza, em todas estas tentativas desesperadas e desperdiçadas para encontrar um sentido infinito na "ex-sistência", existe algo daquele anseio que reveste o poeta de grandeza..Aqui abrem-se os olhos, encaram a morte e não a temem; aqui desabrocha um heroísmo desesperançoso, cuja glória se realiza como um sorriso, floresce como uma rosa...aqui estão os vendavais do desejo e as calmarias das expectativas, da espera... Mas durante um longo tempo, arte se havia afastado e desviado os olhos de todas estas manifestações: eram gestos impacientes, desnorteados, distraídos e apressados, de interesses particulares e impacientes...da mesma maneira os gestos da humanidade que não consegue encontrar o seu sentido, tornaram-se mais impacientes, nervosos, apressados e bruscos.. ”