A História enquanto curso de um discurso: o destinamento do existir.

Em consonância com o próprio procedimento metodológico prescrito por Heidegger em seu Ser e tempo, comecemos por abordar o Ser através de sua manifestação fáctica. Queremos investigar aqui os fenômenos da poesia, da História e da linguagem. Sabemos que Heidegger visa à poesia enquanto o fundamento da história e enquanto essência da linguagem. A História seria, portanto, a forma do desdobramento fáctico dessa linguagem cuja essência é poesia. Vejamos então como a linguagem se desdobra enquanto história e talvez isto nos habilite a contemplar a forma própria de sua essência. Heidegger compreende a história enquanto o curso do discurso que constitui o Ser do homem enquanto ser-no-mundo. Este esquema que configura a estrutura existencial do Ser do homem nos termos de um ser-aí se oferece como forma a priori de determinação deste Ser enquanto pura compreensividade instituída em vista da possibilidade própria de sua facticidade, qual seja: a compreensão do Ser. 

Enquanto modo único de ser do ser-no-mundo, a História de modo algum se determina em sua essência enquanto seqüência de fatos passados ou atuais, nem, tampouco, enquanto simples verificação de caráter quer crítico quer exemplar, quer mesmo ilustrativo de tais fatos, de tais tempos. Bem antes, a História ao se determinar enquanto o curso do discurso constitutivo do existir humano estabelece de partida os modos e as orientações deste existir em sua totalidade, nesta ou naquela atualidade.

Assim, tomar corretamente a História enquanto curso do discurso concernente ao existir ele mesmo é tomá-la sob a perspectiva da estrutura ser-no-mundo, a qual compreendida, como foi afirmado acima, enquanto a compreensividade, através da qual o Ser do homem deve se determinar em vista da possibilidade própria da sua facticidade, compreendida nestes termos se deixa apreciar nos termos de um destinamento do ser-aí no interior da linguagem. Para entendermos isto com mais precisão é necessário, ainda que de modo muito genérico, como ainda nos é possível fazê-lo, apresentar a configuração existencial fáctico-cadente que Heidegger propõe da estruturação do Ser do homem, em Ser e tempo. Tentemos aqui uma breve aproximação desse complexo problemático: Nesta obra, Heidegger apresenta e explicita o conjunto estrutural que constitui a essência existencial-fáctico-temporal do Ser do homem em seu sentido próprio de ser-aí.
 
Em sua primeira parte nos é ensinado que o modo enquanto o qual se determina o Ser do homem nos termos de um ser-aí, isto é, de uma existência determinada por uma exclusiva transitividade no interior da linguagem, se deixa configurar através do esquema de sua estruturação ontológico-temporal: Ser-si-antecipado-já-em-um-mundo junto ao ente intramundano encontrado; tal estruturação se deixa unificar sob o nome de Cura – sentido latente necessário à determinação fenomenológica do que possa ser compreendido por História.




(por  Manuela S.)