Hölderlin

"Todos os dias saio , sempre em busca de outro caminho,
há muito interroguei já todos os da terra;
Além dos cimos frescos, todas as sombras visito
E as fontes; erra o espírito para cima e para baixo,
Pedindo sossego; assim foge o bicho f'rido pra os bosques,
Onde outrora ao mei'-dia repousava seguro à sombra;
Mas o seu leito verde já não lhe restaura o coração,
Lamentoso e sem sono o aguilhoa por toda a parte o espinho.
Nem do calor da luz nem do fresco da noite vem ajuda,
E em vão banhas as f'ridas nas ondas do rio.
e assim como debalde a terra lhe oferece a erva alegre
Que o cure, e nenhum dos zéfiros acalma os sangue a ferver,
Assim, queridos! assim a mim também, parece, e ninguém
Poderá tirar-me da fronte o sonho triste?

Sim, também nada serve, deuses da morte! que uma vez
Vós o prendais, e amarreis o homem vencido,
Quando, malvados, o tenhais levado para o fundo da noite horrível

Para então buscar, implorar, ou raivar convosco,
Ou talvez paciente morar no desterro medonho,
E ouvir com sorriso da vossa boca a insípida canção:
"Se tem de ser, esquece o teu bem, e adormece sem ruído!"
E contudo brota no teu peito um som de esperança,
Tu não podes ainda, ó minha alma! inda não podes
Habituar-te, e sonhas no meio do sonho de ferro!
Não é tempo de festa, mas eu queria corar meus cabelos;
Pois não estou eu sozinho? mas algo de amigo deve
Lá longe estar perto de mim, e eu sorrio e espanto-me
De como estou feliz assim no meio da dor."