“A partir do momento
que nos esforcemos em viver sinceramente, tudo irá bem, mesmo que tenhamos
inevitavelmente que passar por aflições sinceras e verdadeiras desilusões;
cometeremos provavelmente também pesados erros e cumpriremos más ações, mas é
verdade que é preferível ter o espirito ardente, por mais que tenhamos que
cometer mais erros, do que ser mesquinho e demasiado prudente. É bom amar tanto
quanto possamos, pois nisso consiste a verdadeira força, e aquele que ama muito
realiza grandes coisas e é capaz, e o que se faz por amor está bem feito. Se só
pudéssemos dizer umas poucas palavras, mas que tivessem um sentido, seria
melhor que pronunciar muitas que não fossem mais que sons vazios, e que
poderiam ser pronunciadas com tanto mais facilidade, quanto menos utilidade
tivessem. Se continuarmos a amar sinceramente o que na verdade é digno de amor,
e não desperdiçarmos nosso amor em coisas insignificantes, nulas e insipidas,
obteremos pouco a pouco mais luz e nos tornaremos mais fortes.
Quanto
antes procurarmos nos qualificar num
certo ramo de atividade e numa certa profissão, e adotarmos uma maneira de
pensar e de agir relativamente independente, mais firme se tornará o caráter,
sem que para isto tenhamos de nos tornar limitados. E é sensato fazer estas
coisas, porque a vida é curta e o tempo passa depressa; se nos aperfeiçoarmos
numa única coisa e a compreendermos bem, alcançamos além disso a compreensão e
o conhecimento de muitas outras coisas. Às vezes é bom ir ao fundo e frequentar
os homens, às vezes somos até obrigados e chamamos a isto, mas aquele que
prefere permanecer só e tranquilo em sua obra, e não quer ter mais que uns
poucos amigos, é quem circula com maior segurança entre os homens e no mundo. É
preciso não se fiar jamais no fato de viver sem dificuldades ou sem
preocupações ou obstáculos de qualquer natureza, mas não se deve procurar ter
uma vida muito fácil.
Independente
de qualquer revolução violenta, também haverá uma revolução íntima e secreta
nas pessoas, da qual ressurgirá uma nova religião, ou melhor, algo totalmente
novo, que não terá nome, mas que terá o mesmo efeito de consolar, de tornar a
vida possível...
Não
é a emoção, a sinceridade do sentimento da natureza, que nos impele? E se essas
emoções são às vezes tão fortes que trabalhamos sem sentir que estamos
trabalhando, quando às vezes o toque vem numa sequência e relacionados entre si
como as palavras de um discurso ou de uma carta, é preciso lembrar-se então que
nem sempre foi assim, e que no futuro haverá muitos dias pesados, sem inspiração.
O
que sou eu nos olhos da maioria – uma nulidade ou um homem excêntrico ou
desagradável – alguém que não tem uma situação na sociedade e que não terá;
enfim, um pouco menos que nada. Bom suponha que seja exatamente assim, então eu
gostaria de mostrar por minha obra o que existe no coração de tal ‘excêntrico’,
de tal nulidade. Esta é a minha ambição. Ainda que frequentemente eu esteja na
miséria há, contudo, em mim, uma harmonia e uma música calma e pura. Na mais
pobre casinha, no mais sórdido cantinho, vejo quadros e desenhos. E meu
espirito vai nesta direção por um impulso irresistível. Não é tanto a língua
dos pintores, mas a língua da natureza que é preciso dar ouvidos. Sentir as
coisas, a realidade, é mais importante que sentir os quadros. Porque tenho da
arte e da própria vida, de quem a arte é essência, um sentimento tão vasto e
tão amplo, que acho irritante e falso quando vejo pessoas posando de
acadêmicos. Em todo caso, se as pessoas acham bom ou ruim o que faço e como
faço, de minha parte eu não vejo outro partido a tomar além de lutar com a
natureza por tanto tempo quanto necessário porquanto ela me confiar seus
segredos.”