Caiu
neve. Depois da meia-noite, bêbado de vinho purpúreo, deixas a zona sombria dos
homens, a chama vermelha do seu lume. Ah, a escuridão!
Geada
negra. A terra está dura, o ar tem um sabor amargo. As tuas estrelas juntam-se
e formam sinais malignos.
Com
passos duros caminhas ao longo da linha férrea, de olhos redondos, como um
soldado que ataca uma trincheira negra. Avante!
Neve
amarga e lua!
Um
lobo vermelho a ser estrangulado por um anjo. As tuas pernas tilintam, a andar,
como gelo azul, e um sorriso cheio de tristeza e arrogância cobriu-te o rosto,
e a fronte empalidece com a volúpia da geada;
ou
inclina-se em silencio sobre o sono de um guarda que se deixou cair na sua
cabana de madeira.
Geada
e fumo. Uma camisa branca de estrelas queima os ombros que a vestem e os
abutres de Deus dilaceram o teu coração metálico.
Oh,
a colina de pedra! O silêncio derrete, e esquecido jaz na neve prateada o frio
corpo.
Negro
é o sono. O ouvido segue longamente os atalhos das estrelas no gelo.
Ao
despertar tocavam os sinos na aldeia. Da porta do levante nascia, prateado, o
dia rosado.
(Georg Trakl)