Hölderlin
"Todos os dias saio , sempre em busca de outro caminho,
há muito interroguei já todos os da terra;
Além dos cimos frescos, todas as sombras visito
E as fontes; erra o espírito para cima e para baixo,
Pedindo sossego; assim foge o bicho f'rido pra os bosques,
Onde outrora ao mei'-dia repousava seguro à sombra;
Mas o seu leito verde já não lhe restaura o coração,
Lamentoso e sem sono o aguilhoa por toda a parte o espinho.
Nem do calor da luz nem do fresco da noite vem ajuda,
E em vão banhas as f'ridas nas ondas do rio.
e assim como debalde a terra lhe oferece a erva alegre
Que o cure, e nenhum dos zéfiros acalma os sangue a ferver,
Assim, queridos! assim a mim também, parece, e ninguém
Poderá tirar-me da fronte o sonho triste?
Sim, também nada serve, deuses da morte! que uma vez
Vós o prendais, e amarreis o homem vencido,
Quando, malvados, o tenhais levado para o fundo da noite horrível
Para então buscar, implorar, ou raivar convosco,
Ou talvez paciente morar no desterro medonho,
E ouvir com sorriso da vossa boca a insípida canção:
"Se tem de ser, esquece o teu bem, e adormece sem ruído!"
E contudo brota no teu peito um som de esperança,
Tu não podes ainda, ó minha alma! inda não podes
Habituar-te, e sonhas no meio do sonho de ferro!
Não é tempo de festa, mas eu queria corar meus cabelos;
Pois não estou eu sozinho? mas algo de amigo deve
Lá longe estar perto de mim, e eu sorrio e espanto-me
De como estou feliz assim no meio da dor."
Rainer Maria Rilke sobre August Rodin
"...agora se lhe revelava todos os dramas da vida: as profundezas das noites de amor, a escura amplidão carregada de prazer e mágoa...como alguém que procura a vida, ele ingressou com os sentidos encandecentes no turbilhão desta luta, e o que viu foi: vida. Aqui pulsava vida, existia mil vezes a cada minuto, existia na saudade, na dor, na loucura e no medo, na perda e no ganho. Aqui havia um anseio incomensurável, um sede tão grande que todas as águas do mundo nela secavam como uma gota, aqui não havia mentira nem renegação, e os gestos do dar e do receber eram autênticos e grandes. Aqui estavam os vícios e as difamações, as condenações eternas e bem-aventuranças, e de súbito percebeu-se que tinha que ser pobre o mundo que escondia e enterrava tudo isso, e fazia de conta que nada disso existia. Mas existia. Ao lado de toda história da humanidade caminhou esta outra historia, que desconhece disfarces, convenções, diferenças e posições sociais – conhece apenas a luta. Também ela se desenvolveu, e a partir de um instinto se tornou um anseio.. em todos os vícios, em todos os prazeres que contrariam a natureza, em todas estas tentativas desesperadas e desperdiçadas para encontrar um sentido infinito na "ex-sistência", existe algo daquele anseio que reveste o poeta de grandeza..Aqui abrem-se os olhos, encaram a morte e não a temem; aqui desabrocha um heroísmo desesperançoso, cuja glória se realiza como um sorriso, floresce como uma rosa...aqui estão os vendavais do desejo e as calmarias das expectativas, da espera... Mas durante um longo tempo, arte se havia afastado e desviado os olhos de todas estas manifestações: eram gestos impacientes, desnorteados, distraídos e apressados, de interesses particulares e impacientes...da mesma maneira os gestos da humanidade que não consegue encontrar o seu sentido, tornaram-se mais impacientes, nervosos, apressados e bruscos.. ”
Mas o que é dor?
Mas o que é dor? A Dor rasga. É a fenda. Mas não rasga em fragmentos dispersivos. A dor, na verdade, rasga em pedaços, separa, e ainda ao mesmo tempo atrai tudo para si mesma, reúne tudo em si. Seu rasgar, enquanto uma separação que reúne, é ao mesmo tempo o desenho que, como a caneta de desenho num plano ou num esboço, desenha e une o que é realizado separadamente na separação. A dor é o agente ajuntador do rasgar que divide e reúne. A dor é a união da fenda. A união é o limite. Instala-se no "entre", no meio dos dois que são separados nela. A dor junta-se à fenda da diferença. A dor é a própria di-ferença, a separação do "entre", o meio reunidor. A dor apropria o limite (a união) no seu suportar.
Martin Heidegger - trecho de "Unterwegs zur Sprache" (A Caminho da Linguagem)
A História enquanto curso de um discurso: o destinamento do existir.
Em consonância com o próprio procedimento metodológico prescrito por Heidegger em seu Ser e tempo, comecemos por abordar o Ser através de sua manifestação fáctica. Queremos investigar aqui os fenômenos da poesia, da História e da linguagem. Sabemos que Heidegger visa à poesia enquanto o fundamento da história e enquanto essência da linguagem. A História seria, portanto, a forma do desdobramento fáctico dessa linguagem cuja essência é poesia. Vejamos então como a linguagem se desdobra enquanto história e talvez isto nos habilite a contemplar a forma própria de sua essência. Heidegger compreende a história enquanto o curso do discurso que constitui o Ser do homem enquanto ser-no-mundo. Este esquema que configura a estrutura existencial do Ser do homem nos termos de um ser-aí se oferece como forma a priori de determinação deste Ser enquanto pura compreensividade instituída em vista da possibilidade própria de sua facticidade, qual seja: a compreensão do Ser.
Enquanto modo único de ser do ser-no-mundo, a História de modo algum se determina em sua essência enquanto seqüência de fatos passados ou atuais, nem, tampouco, enquanto simples verificação de caráter quer crítico quer exemplar, quer mesmo ilustrativo de tais fatos, de tais tempos. Bem antes, a História ao se determinar enquanto o curso do discurso constitutivo do existir humano estabelece de partida os modos e as orientações deste existir em sua totalidade, nesta ou naquela atualidade.
Assim, tomar corretamente a História enquanto curso do discurso concernente ao existir ele mesmo é tomá-la sob a perspectiva da estrutura ser-no-mundo, a qual compreendida, como foi afirmado acima, enquanto a compreensividade, através da qual o Ser do homem deve se determinar em vista da possibilidade própria da sua facticidade, compreendida nestes termos se deixa apreciar nos termos de um destinamento do ser-aí no interior da linguagem. Para entendermos isto com mais precisão é necessário, ainda que de modo muito genérico, como ainda nos é possível fazê-lo, apresentar a configuração existencial fáctico-cadente que Heidegger propõe da estruturação do Ser do homem, em Ser e tempo. Tentemos aqui uma breve aproximação desse complexo problemático: Nesta obra, Heidegger apresenta e explicita o conjunto estrutural que constitui a essência existencial-fáctico-temporal do Ser do homem em seu sentido próprio de ser-aí.
Assim, tomar corretamente a História enquanto curso do discurso concernente ao existir ele mesmo é tomá-la sob a perspectiva da estrutura ser-no-mundo, a qual compreendida, como foi afirmado acima, enquanto a compreensividade, através da qual o Ser do homem deve se determinar em vista da possibilidade própria da sua facticidade, compreendida nestes termos se deixa apreciar nos termos de um destinamento do ser-aí no interior da linguagem. Para entendermos isto com mais precisão é necessário, ainda que de modo muito genérico, como ainda nos é possível fazê-lo, apresentar a configuração existencial fáctico-cadente que Heidegger propõe da estruturação do Ser do homem, em Ser e tempo. Tentemos aqui uma breve aproximação desse complexo problemático: Nesta obra, Heidegger apresenta e explicita o conjunto estrutural que constitui a essência existencial-fáctico-temporal do Ser do homem em seu sentido próprio de ser-aí.
Em sua primeira parte nos é ensinado que o modo enquanto o qual se determina o Ser do homem nos termos de um ser-aí, isto é, de uma existência determinada por uma exclusiva transitividade no interior da linguagem, se deixa configurar através do esquema de sua estruturação ontológico-temporal: Ser-si-antecipado-já-em-um-mundo junto ao ente intramundano encontrado; tal estruturação se deixa unificar sob o nome de Cura – sentido latente necessário à determinação fenomenológica do que possa ser compreendido por História.
(por Manuela S.)
Assinar:
Postagens (Atom)