De nada serve, ó deuses da morte, enquanto tiverdes
Em vosso poder, prisioneiro, o homem acossado pelo destino,
Enquanto, no vosso furor, o tiverdes lançado na noite tenebrosa,
De nada serve então procurar-vos,suplicar-vos ou queixarmo-nos,
Ou viver pacientemente neste desterro de temor,
E escutar sorrindo o vosso canto sóbrio.
Se assim for,esquece a tua felicidade e dormita silenciosamente.
No entanto brota no teu peito uma réstea de esperança,
Tu ainda não podes,ó minha alma!Não podes ainda
Habituar-te e sonhas dentro de um sonho férreo!
Não estou em festa,mas gostaria de coroar-me de flores;
Não me encontro eu só?Mas algo apaziguador deve
Aproximar-se de mim vindo de longe e sou forçado a sorrir e a admirar-me
Por experimentar alegria no meio de tão grande sofrimento.
A ti, a ti só heroína! A tua luz na luz te mantém,
E tua paciencia te mantem amorosa, ó benigna!
E nem mesmo estàs só, companheiros bastantes há,
Onde tu floresces e repousas entre as rosas do ano,
E o próprio Pai, pelas Musas que respiram doçura,
Te envia as ternas canções de embalar.
Sim, ela é linda a mesma! Inda me surge, como outrora
Caminhando serena, a mesma toda, a Ateniense.
E enquanto amigavel espírito, de tua fronte serena e pensativa,
Cai entre os mortais a segura benção do teu brilho,
Provas-me assim e dizes-me, para que eu o diga aos outros,
Porque há outros tambem que o não acreditam,
Dizes-me que mais mortal que o cuidado e a cólera é a alegria,
E que no fim há ainda em cada dia um dia de ouro.
Inda há muito, muito de grande a descobrir, e quem
Assim amou, vai - tem de ir! - pela estrada dos deuses.
E acompanhai-me vós, horas sacrais, vós graves,
Juvenis! Pressentimentos sagrados, ficai vós conosco,
Preces devotas! E vós entusiasmos, e vós todos,
Bons genios, que gostais de acompanhar os que amam,
Lá onde os venturosos todos descem de bom grado,
Lá onde as águias estão, os astros, os mensageiros do Pai
E as Musas, lá donde vêm os herois e os amantes,
Lá ou aqui mesmo, sobre uma ilha orvalhada
Onde os nossos esperam, flores reunidas em jardins,
Onde os cantos são verdade, e as Primaveras são mais tempo belas,
E de novo um ano da nossa alma começa!
- Hölderlin