Breve ensaio sobre a relação entretida entre História, Poesia e Linguagem no âmbito da Filosofia de Martin Heidegger

Orientando-nos pela investigação procedida por Martin Heidegger acerca do fundamento poético-histórico da linguagem, este breve texto apresenta-se como uma proposta de estudo em vista da compreensão da relação entretida entre poesia, linguagem e História.  Tal estudo se pretende como um passo prévio para a investigação da ontologia de Heidegger, e a ele nos orienta a própria afirmação do filósofo, em seu ensaio Cartas  sobre o Humanismo, de que a questão privilegiada em Ser e Tempo: o esquecimento do Ser, lhe foi fornecida pela poética de Friedrich Hölderlin.

Nestes termos, procuraremos compreender a tarefa própria da linguagem e da história (de forma privilegiada da história do pensamento), bem como a origem de ambos os fenômenos e o caráter indissociável do seu vínculo com o saber da poesia. E isto com o intuito de aprender sob que circunstâncias Heidegger determinou a poesia como fundamento da História e da linguagem, e colocou tal determinação como problema privilegiado para a investigação filosófica.

Para Heidegger, a História é (dá-se) enquanto o curso do discurso que constitui o Ser do homem – o seu Dasein, enquanto ser-no-mundo.  Ao seu ver, enquanto constituição do Ser do homem,  a história não se determina apenas enquanto a factualidade de tempos passados nem atuais, nem muito menos enquanto verificação de fatos ocorridos em tais tempos. Bem antes, a História determinando-se enquanto discurso constitutivo do existir humano estabelece de partida os modos e as orientações deste existir na sua totalidade, nesta ou naquela atualidade. Mas o que significa para Heidegger pensar a História enquanto curso de um discurso? Significa abordá-la na perspectiva da estrutura ser-no-mundo, a qual se propõe enquanto fator determinante do existir humano e se deixa compreender nos termos de um destinamento do Dasein no interior da linguagem, em vista do próprio poder-ser deste. Ou seja, se o Ser do homem se destina necessariamente na linguagem, tanto o poder-ser (fático) deste Ser quanto o seu meio de possibilidade, por seu próprio caráter de destinamento, deverão se determinar enquanto curso necessariamente histórico de um discurso.

Sempre orientado pela perspectiva de Hölderlin, Heidegger estabelece: “Cheio de mérito, contudo poético, mora o homem sobre esta Terra.” Esta citação do poema Num azul ameno, de Hölderlin, é o fio condutor que Heidegger oferece à investigação filosófica para pensar sobre o sentido próprio tanto do que seja História, quanto linguagem e ainda poesia. Assim, tomar este fio condutor oferecido pelo filósofo para problematizar o existir humano sobre o fundamento desta tríade fenomênica significa ascender a uma perspectiva que poderá dar a ver a estrutura que rege tudo a que tal existir está originariamente ligado e que o influencia a todo momento silenciosa e imperiosamente.

A tarefa da linguagem enquanto casa do Ser é guardar a verdade do Ser para o homem em sua moradia (permanência) sobre esta Terra. Tal verdade se dá originariamente na poesia. Esta aqui se revela enquanto a abertura privilegiada do real, pelo fato que a poesia constitui a linguagem primordial, portanto o saber primordial, dos povos. E isto, ainda de acordo com o ensinamento de Hölderlin: “Desde que somos um diálogo”.
    Sobre o caráter próprio e essencial de diálogo da linguagem, Heidegger esclarece que esta proposição “Desde que somos um diálogo” não pretende nomear o diálogo enquanto mera prática cotidiana entre sujeitos interlocutores; nomeia antes o acontecimento essencial e originário da linguagem a partir do qual se determina a história e o mundo (este aqui âmbito de possibilidade e de significação erigido pelo existir em vista do seu poder-ser). E uma vez que o mundo só pode vir à linguagem na medida em que o real (ente) interpela e reivindica a todo momento o existir em seu destinamento (projeção) para o seu poder-ser, o ser histórico e o ser um diálogo se tornam por fim o mesmo.

    Mas quem media um tal diálogo entre homens com e acerca do real? O poeta é aquele que traduz e torna manifesta a reivindicação do real, instituindo a permanência desta reivindicação no dizer essencial da poesia – “Mas o que permanece, instituem-no os poetas”. Isto o afirma Hölderlin em seu poema Recordar. Instituir o permanente, Heidegger o ensina, é proteger a linguagem contra a dissipação cotidiana e guardar na palavra essencial a nomeação do Ser do real. Poesia é instituição originaria do Ser contido na palavra, e fundamentação histórica de um povo.


(por M.S.)

Iki

Japanese: ...But speaking only by large, I may attempt to detach Iki, which we just translated with "grace", from aesthetics, that is to say, from the suject-object relation. I do not now mean gracious in the sense of a stimulus that enchant...

Inquirer: If we keep this reservation in mind, there is no harm in your trying to give the explication..

J: Iki is the breath of stillness of luminous delight.

I: You understand delight literally, then, as what carries away into stillness. The delight is of the same kind as the hint that beckons to and fro.

J: The hint, however, is the message of the veiling that opens up.

I: Then all presence would have its source in grace, in the sense of the pure delight of the beckoning stillness.



M. Heidegger, "On the Way to Language"